quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Nostalgia Atemporal

Detesto essa nostalgia que por diversas vezes me acomete

Detesto esse sentimento de passado essa vontade de revirar as gavetas e procurar nesgas de lembranças que me façam transportar para um momento, um breve momento que nunca, nunca mais voltará. Detesto olhar velhas fotos e tentar adivinhar o que acontece, o que se está fazendo e o que houve de errado. Talvez, seja por isso que deteste mais, porque não há erro, não há culpados.

Simplesmente o implacável e fabuloso senhor tempo agindo na roda da vida sem que eu possa parar para me despedir ou para rever. Mas, por qual motivo coisas que já passaram doem tanto? Se já passaram, não deveriam causar mais tanto pesar, deveriam ser apenas lembranças fugazes. Acho que eu tenho mais saudade é do futuro! O que é por si anacrônico e atemporal. Como são egoístas e frágeis, os humanos! Vivem essa eterna sina de Prometeu por terem roubado o fogo do Olimpo, imortais condenados a serem consumidos vivos por pássaros durante o dia e terem o corpo reconstruído à noite, para começar tudo outra vez durante toda a breve eternidade de suas vidas. É a isso que eu comparo a palavra saudade, triste sina....

Eu não queria que nada exterior influenciasse minha vida. Sempre fui independente, sempre fui meu próprio senhor. Naquele momento,[..] tive um estranho sentimento de que o destino havia guardado para mim alegrias e tristezas intensas.”
Oscar Wilde in O Retrato de Dorian Gray

sábado, 1 de janeiro de 2011

Réquiem à um amigo

    Já passa da meia-noite, os lenços brancos secam os olhos cansados de chorar, o silêncio da sala é quebrado apenas por soluços sofridos. O cenário é desolador. As luzes estão acesas, mas é como se apenas a chama das velas estivessem acesa. Do lado, três cadeiras se juntam a parede, nelas, duas mulheres de gerações distintas choram silenciosamente enquanto velam o corpo de seu amado. O cheiro de rosas invade os quatro cantos da sala. Qual a finalidade de rosas em um velório? Ao que estamos condecorando ou festejando? Estamos venerando a morte, ou esperando aprovação em olhos alheios?
    Morrer é tão simples e patético e, ao mesmo tempo, tão sublime e ignoto. Eu, que sempre acreditei na recarga da criatura perante o criador me vi balançado ao vê-la em sua vestes funestas. Ao menos, tive tempo de compreendê-la, de decifrá-la e, talvez, agora eu me sinta mais forte. Menos funesto e, talvez, mais ignoto. O tempo passou. A lua, antes minguante, agora cheia, nos revela que o mundo girou, que saímos dos campos floridos de primavera e entramos no verão. Isso me faz lembrar que o mundo não vai parar enquanto meus olhos fitam o preto e minhas vestes se trocam por tons de cinza e preto. Por mais que eu sinta, eu não posso trazer as pessoas ao meu redor de volta. Talvez, nem devesse fazer isso! Tudo um dia deve partir para que o ciclo recomece, nada é infinito.
     “Enfim, descobrimos, agora, que tudo começa e acaba com um sim. Também é preciso coragem para morrer, silêncio para ouvir o grito da vida.” Clarice Lispector In “A Hora da Estrela"


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