sábado, 20 de novembro de 2010

Apenas Ele

Não havia mais nada ali além de pó. O tempo e suas intempéries levaram embora tudo que poderia algum dia voltar a ser algo belo e consistente. Uma meia-luz sobre a escrivaninha identificava um velho caderno escrito a mão. Para onde o velho senhor Sem Nome teria ido? Sempre tive um pouco de pena dele, era tão só! Ninguém conhecia sua história, ninguém sabia quem ele era realmente. Na verdade, ninguém nunca quis saber. Caminhei por entre os móveis e peguei o velho caderno. Na capa estava escrito: “ Meu Mundo”, comecei a desvendar esse mundo e em pouco não conseguia parar de lê-lo. Sete horas haviam se passado e eu já estava perto do fim. Finalmente, eu sabia quem era aquele homem.

Pouco a pouco, ele foi percebendo que as pessoas lhe davam sono! Eram tão mediocremente e inocentemente rasas que sua mente se tornava incompatível com as deles. Ele realmente não se achava superior aos demais, porém, não conseguia disfarçar sua falta de interesse. No entanto, cada vez mais que ele se esforçava para ser igual, para remover suas arestas ele se diminuía, se transformava lentamente numa cópia de todos os seus repúdios. Mas, por que ele fazia isso?

Ele realmente não sabia! Talvez, essa fosse sua maior tristeza. Será que o amariam depois que ele se desfizesse em camadas? Será que seria mais fácil se ele fosse sua essência? Talvez, não estejam preparados para saber de tudo! Os rasos, não conseguem compreender a profundidade e a apelidam de insanidade. Lei da Selva? Melhor esconder-se para evitar a extinção!

Ele passou a criar um mundo só seu, entrava cada vez mais em suas histórias, tornava-se amigo de seus personagens. Os criava e, a partir de então, se tornava seu dono, senhor de seu destino. E cada vez mais o poder lhe surgia irresistível. O mundo passou a ficar mais SEU. Ele criava, ele mandava. Era feliz vivendo a ilusão do espelho. Faltavam apenas duas folhas no caderno. O que ele faria da vida depois que seu mundo acabasse?

Na penúltima página, ele decidiu entrar na história. Todos dizem que no fim tudo é mais bonito, não é mesmo? Tudo se ajeita! Ali, tão perto do fim, ele fez os amigos que tanto esperou.

Sumiu antes do fim para entrar na eternidade.

Interjeições interrogativas

Qual o melhor lugar para enterrarmos nossos medos mais secretos?
Como fugir dessa objetividade do dia a dia e da mente rasas dos outros?
Como explicar que um riso nem sempre representa felicidade
e que um beijo no rosto quer mais do que amizade?

Como fazer que acreditem que o dia pode nascer de uma outra cor
e que as pessoas devem sempre prestar atenção para esse novo dia?
Como fazer com que percebam que cada dia vale a pena e que só você pode mudar o dia a cada dia?

Como fazer as pessoas repararem que acima do céu escuro da noite há uma lua azul, há um céu estrelado que as pessoas nem ao menos se dão conta, afinal, está na hora de dormir?

Como conseguir implantar nas mentes que somente uma palavra pode mudar uma vida?
Como fazer com que entendam o que se pensa, sem que, para isso, se precise falar...

domingo, 17 de outubro de 2010

Glosa da Ironia dos Fluidos

Doces palavras em boca de fel
Viperino perfume na boca do céu
Veneno diluído em falsas bondades
Desejo reprimido em tortas verdades

Lancei ao vento a flecha flamejante
Mirei ao léu um tolo viajante
Mas, em brancos sentimentos devolveu:
Toma de volta o presente que me deu

Tão perfeito o estranho parecia
Pedra lapidada noite e dia
Modos arquitetados e respostas ensaiadas
Sorrisos fingidos e retóricas mascaradas

O perfeito errante de altos valores
Era meu revés, o maior dos meus temores
Conseguia revelar meus parcos talentos
Caçoava de meus tormentos

Resolvi eliminar o problema
Armei um pérfido esquema
De anular a vida que havia
No ser que a vida me repudia

Esperei na estrada o momento perfeito
Enclausurei-me e esperei o efeito
Porém, efeito não chegava
Por onde o viajante andava?

Passaram-se tempos aos montes
A vida me escorria como uma fonte
Mas, a inveja ali me segurava
Matá-lo era ao que me dedicava

Mas, o infeliz nem por ali passou
Quando olhava era dia
Em outra olhada o dia acabou
Da macieira eu comia
Pro corpo que ainda restou

O desejo de vingança me atormentava
Persistia enquanto o corpo não enterrava
Resolvi descer da árvore e vi tudo diferente
As casas, a vida, a cara daquela gente

Na certeza de não mais ver o viajante
Quase morro com uma visão errante
Ali na minha frente o infeliz jazia
O que aquele corpo de pedra ali fazia?
Perguntei a um moço ali perto
“Ele é a fonte do nosso deserto”
Na cidade tudo em torno dele girava
O motivo pelo qual na estrada não passava

Aquele covarde me deixou esperando
A hora do encontro eu sempre marcando
E enquanto na árvore eu esperava
Mais o infeliz prosperava

E quanto mais sucesso ele fazia
Mais minha vida se esvaía
Por que eliminá-lo tentei
E melhorar não procurei?

Nada agora faz sentido
O futuro está distorcido
A minha vingança me cegou
No poço que minha inveja me afundou

Eu sequei, a árvore secou
O homem não passou
E eu ali fiquei...
O tempo também passou
E eu não aproveitei

“Foi-se gastando a esperança,
Fui entendendo os enganos
Do mal ficaram meus danos
E do bem só a lembrança” [Camões]

sábado, 2 de outubro de 2010

O fadado eterno amor

Assistindo a mais um capítulo das juras de amor eterno de um segundo comecei a refletir sobre o infinito aliado ao amor...

Não ame infinitamente, o infinito é restrito quando a vida é longa,

As pessoas mudam a vida muda, as circunstâncias tornam-nos mais fortes e o amor infinito torna-se apenas uma frase bonita de se dizer.

Que me perdoem os românticos que nunca pararam pra refletir

Mais NINGUÉM ama ALGUÉM eternamente. Isso é só uma frase bonita!

É óbvio, é só seguir pela linha de que muitas vezes nem nós mesmos nos amamos, como podemos amar alguém só pelo simples desejo de gostar, de dedicar nosso afeto.

O eterno é uma sombra pesada, um fardo que depois de pronunciado tem que ser cumprido. Para amar alguém infinitamente tem de amá-la além da própria vida, fundir sua vida nesse alguém e viver em função dele.



Prefiro dizer que amo INCONDICIONALMENTE. Amor sem restrições aberto à tudo, críticas, sugestões e etc.... Amor irrestrito, livre de preconceitos, que sabe voar, mas sabe voltar, que procura outros amores enquanto o outro dói, não amores carnais, quem sabe amor pela própria vida, amor pelo bem.

“ Para tão longo amor, tão curta vida!”

Pinturas Humanas

Somos seres errados! Somos seres humanos! E, é essa imperfeição que nos faz acordar para sermos perfeitos, por que é o vazio de nossos quadros que procura os sorrisos que melhor lhe cabem....

Somos telas brancas pintadas com cuidado, mas, existem traços fortes e a vida nos mostra beleza diferente de paisagens e, de repente, estamos vivendo uma explosão expressionista.

O que é a vida se não uma bela viagem no surrealismo?

As vias do Amor

Um amor só existe se os dois amarem?

Clichês do tipo
“ O amor é uma via de mão dupla e só existe se for e voltar ”

Considero a frase meio prosaica e vazia...

Primeiramente
Quem nunca amou e não foi amado
Não existia amor? Para o que foi amado não, para o que amou sim!

Em segundo
Meu ríspido dicionário classifica amor como:
Grande afeição pelo belo, grandioso...
Ou ainda por cima comete a infelicidade de citar caridade

Caridade não é amor! É piedade,
E se ama por piedade?
Ou se é piedoso por que se ama?

Pergunto-me o que é amor?
É ter afeição, É gostar?
Será que isso é amor
Ou é apenas amar?

E cada vez mais o substantivo se banaliza pelo verbo
O sentido se banaliza pela fala
O sentimento se banaliza pelo uso.

“- Que bom! O amor está crescendo no mundo”
Não! Não está! Ou pelo menos não o que deveria ser amor
As pessoas acham que amar é apenas dizer “Eu te amo”
E acabam “amando” por complacência, por covardia!

E para aqueles que não entenderam:
“Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento”[C.L]

O Tempo e o Vento

-O que foi isso que passou?
-Isso foi o tempo!
Passou-se o tempo num lindo temporal
Que grandes amigos eles são!
O tempo e o vento
O vento leva o que o tempo deixou,
O tempo cura o que o vento levou.

Caminham juntos
Passa tempo, Passa vento
O tempo faz a curva com o vento
E o vento leva as areias do tempo.

Antes se contava o tempo com o passar do vento
Hoje, nomeia-se o vento com o passar do tempo.

Quanto tempo faz? Que bons ventos o trazem?
Como são tolos os homens
Nem nas mais belas metáforas
Explicam a idade do tempo e a força do vento
Quiseram colocar o vento na garrafa e
Aprisionar o tempo num tal de relógio

Mas onde isso os levou?
Não viram que apenas gastaram tempo
Deixaram de sentir o vento

Os homens se preocupam tanto com os ventos da estação
Se amanhã vai fazer tempo bom.
Eles simplesmente não sentem!
E não porque optaram, mas, porque se acomodaram

Se acomodaram a sentir apenas uma brisa
Se acomodaram a dividir o tempo em calendários
Como se tudo isso fosse o suficiente

E a medida que nos achamos maiorais
Ficamos mais superficiais!

domingo, 12 de setembro de 2010

Entre o escuro e a estrela

As noites estão cada vez mais sem estrelas,
Parecem estar sumindo, fugindo ou se escondendo.
Não as julgo!
No lugar delas faria a mesma coisa!
Para quê gastar meu brilho com quem não me repara?
Para quê esperar quem não vem?

O que me impede de sumir quando ninguém ira notar meu sumiço?
Acho que a própria atenção que desejo me impede!
Se não existo existindo quem dirá sem existir.
Fico no meu complexo de existência

Duvido que deixem de reparar no sol!
Ele é forte, garboso e radiante.
Eu fraco, pequeno e apenas mais um na imensidão.
Alguns dizem que sou um traço do que fui,
Talvez não exista, não esteja aqui!
Talvez eu diga que não me importe.
Mesmo que só eu sinta o infortúnio dessas palavras.

Estrelas cadentes são aquelas que não suportaram.
Aquelas que desistiram de prosseguir em busca de atenção
Caem a Terra para que sejam notadas, admiradas ao menos uma vez
Só uma única vez.
Porém, eu persisto!
Alguém, em algum lugar deve estar olhando por mim
Deve estar esperando por mim
Deve querer ver meu brilho pelas frestas de sua janela
Eu devo ser a estrela de alguém, a guia de um navegante
Ou ser fundamental numa constelação, como aquela no cruzeiro do sul...

Acreditar que eu sou especial para alguém é o que me faz brilhar
Não tenho medo de fortes raios, depois de todo brilho do sol a noite chega
E eu apareço discreta para alguém que me torna única...

O despertar de um precipício

Ei, você!
Acorde!
Até quando você vai prosseguir nessa estrada com os olhos fechados?
Veja!
Você já está prestes a cair e, dessa vez, os anjos não poderão te salvar!
Você está só, tão só que seus pensamentos chegam a ecoar pelos cantos desse abismo...
Mas, ainda não é a hora de ir!
Não se deve desistir assim, tão facilmente, tão levemente, tão mediocremente...
Dessa vez, não haverá como voltar atrás...
Suas asas foram cortadas, suas mãos foram seladas e seus olhos vendados
Mas, sinta!
Sinta que está seguindo para um encontro gélido com o nada!
Ainda dá tempo para você voltar! Mas, é preciso que saibas que isso só depende de você...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Viver e ter vida

Vivemos!!!
Isso é fato!
Mas, por qual motivo?
Para o quê ou para quem vivemos?
Existem pessoas que crêem que vivemos a missão que o criador nos designou
Particularmente acho bobagem
Fazemos de nossas vidas o que queremos viver
Será que ter vida é o mesmo que viver?
Acho que não...
Meu dicionário diz que sim vi.ver: v. 1. Intr. Ter vida.
A diferença dos dois está gramaticalmente clara
Vida é substantivo e viver é um verbo, intransitivo por sinal
Logo, podemos concluir que vida é o nome do algo que recebemos ao nascer
Viver é a ação que devemos praticar nos anos seguintes...
Meu dicionário usa umas palavras bonitas para vida:
Atividade interna substancial, por meio da qual atua o ser onde ela existe;
Estado de atividade imanente dos seres organizados.
Devo confessar que eu o detesto
Essa forma categórica de me dizer algo é insuportável
Não me ache demente
Eu sei que ele cumpre o papel dele
Mas, esse insuportável sempre me dá uma sensação de inferioridade,
Ele poderia me dizer: Eu não sei
Mas, ele sempre tem algo a me dizer mesmo que me direcione a outras palavras que eu nem queria saber o significado.
Ele é a vida
É o seco, a essência, o gênese.
Eu o odeio porque sou o viver
O caminhar, o descobrir, o modificar
Será que os seres travam essa luta o tempo todo????
Devemos seguir a vida ou viver
Se temos vida pouco importa
Uma árvore tem vida e pouco faz dela
Mas, se vivemos, podemos construir pontes que nos unam de dentro para fora
Infelizmente, ou felizmente ainda precisaremos da vida para viver....

É isso... O ser humano é como uma casa, pois surge da união do alicerce com a parede.
A vida é o alicerce, nos sustenta, nos deixa à frente do caminho da parede
A parede é a nossa vida, podemos construí-la como quisermos, seja curva, reta, indo de algum lugar à lugar algum... do tanto que não fuja do nosso alicerce, porque senão o resultado será o desmoronamento de um viver construído na farsa de uma vida....

Mas, o ser é composto apenas de alicerce e parede?
Óbvio que não
Depois da parede bem construída precisamos do teto
Para que possamos nos perpetuar pela existência
E o teto é aquele(a) que escolhemos para seguir conosco
Que nos dará proteção e tranqüilidade,

Juntar-se-ão os alicerces e paredes e viverão sob o mesmo teto assim se completarão.
Se bem construídos sobreviverão à chuva
Se não, boas brisas a fará tremer até findar

Nós somos as letras do mundo

O que são as letras perante as palavras e o que são palavras fronte as orações, períodos, versos, estrofes, sonetos... A resposta? Elas são a base de tudo, não haveria lindos sonetos de amor eterno se cada letra não fosse justaposta com um coração sincero.

É isso que somos! SOMOS AS LETRAS DO MUNDO fazemos parte de um livro onde nos colocamos de forma embaralhada, confesso. Mas, quando encontramos a letra certa, ou as letras certas, formamos uma linda palavra e esse é o momento precursor de uma história, o surgimento da primeira palavra.

Somos pequenos grãos de areia, assim como, as letras somos ímpares e não nos damos com qualquer letra, nem adianta forçar uma junção, pois não fará o menor sentido... Já por outro lado, podemos encontrar letras que nos unam para sempre da mesma forma que o sempre se uniu para representar o infinito.

Somos o motor de ignição do mundo, somos a base e, ao mesmo tempo, o topo. Passamos despercebidos, somos usados sem o menor pudor, e nem por isso deixamos de ter confiança de que em algum dia, alguém nos usará mesmo que num verso disputado por palavrões em um muro só pra declarar o amor que sente por outrem.

Quantos de nós ainda esperam ansiosamente pelo dia em que encontrarão com as letras de ALGUÉM? E, por este desenvolver, do nada, quatro letras que formam a bomba mais abstrata e mais forte do mundo: o AMOR.

E com este ALGUÉM aprender a conjugar a nova palavra e a cada dia fazer a palavra ganhar uma nova força pelo passado que viveram, pelo presente que vivem e pelo futuro que viverão para assim dizer: Amei, Amo, Amarei!! Mas, o melhor de tudo é perceber que a cada dia o tempo nos ensina novas palavras como Obter, Vencer e etc...

Nascemos A e durante nossa vida passamos a ser B,F,H,P,T, X e por fim Z é nesse momento que “atamos as duas pontas de nossa vida”e o nosso alfabeto terminou. Mas, é a partir de agora que recomeçaremos nossa contagem. E assim, recomeçar e recomeçar, quantas vezes for preciso! Por que ruim não é passar diversas vezes pelo Z, e sim, nunca ter saído do A, ou ainda, ter passado por este sem nunca ter encontrado nenhuma letra que fosse importante, pois seria nesse motivo que se deixaria de ser letra, e passaria ao símbolo mais triste: O ponto final.

Amor Gramaticalmente Incerto

Não tenho mais direito a achar nada....
Tudo que penso é numa constante vaga
Achar, verbo transitivo. Quem acha, acha alguma coisa? Eu só queria achar alguém!
Por que o meu achar tonto, decerto, ousa ser intransitivo, fingir que não precisa de complemento e que nada lhe falta.....?

O meu “achar” precisa dos advérbios de lugares que andei
Das interjeições que escutei
E das conjunções que não liguei.....

Já procurei outras palavras que tentem suprir a grande necessidade de um adjunto pra viver bem junto, ao adnominal eu ...... Procurei o verbo esquecer, quem sabe o entender, tentar, viver.... Mas o que mais deu certo em mim foi um pronome chamado você.....

Você é o objeto direto que faltava em mim. Aquele que eu chamo de possessivo: MEU, o demonstrativo: Esse, o oblíquo: convosco, consigo. É, o mundo é mesmo estranho morro de ciúmes quando um artigo vem de metido completar você, meu substantivo concreto que me causa algo abstrato. Você é o adjetivo em mim.....

Pena que tudo isso seja apenas na voz ativa, você me joga na passiva e eu fico na reflexiva, pra você eu sou um termo acessório, uma conjunção integrante uma oração subordinada substantiva condicional, pra você eu sou um ponto e vírgula, para mim você é tudo que fica dentre as aspas. Mas, de novo você quer a metida da vírgula, ela é mais legal está em tudo, quem não gosta da vírgula? ela deixa uma frase engraçada ou não... Agora o ponto e vírgula quem sabe usar? Ele é só uma caricatura da vírgula que está sempre limitado pelo ponto final na sua cabeça.....

Acho que as vezes você me conjuga errado, eu queria ser o ter
Mas você quer ter Um SER
Então prefiro SER TE para poder assim TE SER, TE TER
Para assim SERMOS E TERMOS a nossa felicidade,
Mas meu amor é algo banal
E enfim vejo que nosso destino é o ponto final.

domingo, 5 de setembro de 2010

Metadúvida

Decidi que escrevia textos sem sentido
Resolvi dar um sentido para o que escrevo
Mas, se escrever é colocar sentimentos
E, se sentimentos tivessem sentido,
Não haveria sentido algum em escrever.

Já falei do tempo ao vento
Já me perdi nas bobagens que falei
Já viajei no que escrevi
Já muitos filhos abortei

Enfim sobrou algo,
Um sentido nas coisas sem sentido que escrevia
Era algo estranho
Esse estranho era a essência da poesia

Não canto em versos, pois não me atrevo produzir limitado
Não faço formas
Apenas escrevo o que sinto e sinto o que escrevo
E vivemos nessa simbiose infinita
Nesse relacionamento estranho de posse-possuidor
De caça-caçador
De escrita-escritor

A incerteza obscura da espera

A incerteza obscura da espera
Me fez ouvir uma melodia ao longe
Imaginei que seriam do que espero
Mas, o que espero não emite sons
É Mudo!
É Surdo!
Quiçá Cego!

Espero que a música toque outra vez
Que o som um dia ouvido retorne
Tola ilusão
Sons não voltam
Sonos não voltam
Sonhos não voltam
Se nada volta, para quê voltar ao que pensava?

Pensamentos: risco de consciência
Devo temer o que penso?
Ou pensar no que temo?
Quando parar de pensar e começar a agir?

Intra-transporte


Ela ainda era jovem, porém, já se percebiam alguns sinais de idade. Não lembrava há quanto tempo tinha estado ali. Tudo estava tão frio, tão abandonado. Por que ela sentia tanta dor no peito? Se ao menos houvesse luz. Onde haveria luz? Talvez não existisse e, se isso fosse verdade, ela estaria perdida e sozinha no local em que somente ela possuía o mapa de saída. Tentou gritar, mas era inútil. Ninguém poderia salvá-la daquele lugar, lá não havia heróis, não havia fadas nem finais felizes. Arriscou pequenos passos, caminhou tateando o escuro. O relevo era irregular e ela ainda sentia muito frio, mesmo assim, seguir em frente lhe dava a ideia de alcançar aquilo que procurava. Andando mais um pouco tal foi sua felicidade ao notar algumas réstias de luz. Ao apertar os olhos para discernir um pouco de algo enxergou uma criança sentada numa poltrona. A menina sorria, enquanto olhava para uma senhora sentada a sua frente, essa, não mais sorria, seus olhos estavam secos e sua expressão estava apática. Quem seriam aquelas pessoas? Como elas estariam ali?

- Vocês moram aqui? – perguntou a moça.
- Sim – responderam simultaneamente a criança e a velha.
- Por que vocês não acendem as luzes? Está escuro aqui! – arriscou a moça.
- Estamos na luz que nos mantém vivas – respondeu a velha.
- Quase nunca faz sol aqui! Ainda bem que existem duas janelas que permitem que essa réstia de luz nos mantenha vivas – completou a garota.
- Por que vocês dizem que vivem graças a esta luz? – indagou a moça se aproximando das duas.
- Porque nós somos apenas lembranças - falou serenamente a velha senhora.
- Que brincadeira é essa?
- Querida, você ainda não sabe onde está? – ironizou a velha.
- Você nunca nos visita! – reclamou a garotinha.
- Isso só pode ser um pesadelo! – bradou a moça.
- Pesadelos? Já vi muitos deles passarem por aqui – falou a garotinha.
- Eu preciso ir embora – gritou a moça.
- Pode ir! Não podemos prendê-la! Mas, talvez essa seja a última vez que você nos veja - disse a senhora enquanto segurava o braço da moça e a fazia olhar bem fundo em seus olhos – São tão horríveis assim as imagens do seu interior? Isso mesmo! Você está no âmago do seu ser. Nesta sala estão contidos seus sonhos, seus medos.
- Foi aqui que eu vivi todos esses anos desde que você me deixou aqui. Fiquei sozinha e abandonada – gritou a garotinha, que ao mexer-se, revelou nitidamente seu rosto à moça.
- Meu Deus! Você se parece tanto...
- Com você quando era criança! – interrompeu a garotinha – Na verdade, eu sou você! Esperei dias e noites você resgatar seu lado criança. Quantas vezes eu chorei por você não mais sorrir. Com o tempo, este lugar iluminado que EU criei foi ficando escuro e escuro até que ela chegou – falou a menina indicando a velha com a cabeça.
- Aos poucos você parou de sonhar, chegou a parar de ter pesadelos e foi então que eu surgi. Talvez você não me reconheça, afinal, eu serei você daqui a cinquenta anos. Porém, é irônico ver como você já se parece comigo. Dura, ríspida, sem amor. Você reclama de frio, mas foi assim que você deixou seu interior. Essa luz que nos alimenta vem do fato do seu coração ainda bater e dos seus “olhos de fora” sentirem a claridade do mundo. Minha menina, quando aprenderá a usar os “olhos de dentro” – entristeceu-se a velha.
- Eu não podia imaginar...
- Como não podia imaginar – interrompeu a garotinha - Você se entregou a um ritmo louco de trabalho, deixou todos os seus sentimentos nessa sala. Nunca veio aqui pra ver como estava seu interior.
- Mas, você ainda está viva, então, eu não me esqueci de você, certo? – falou a moça para a garotinha.
- Não dá pra esquecer quem você foi, minha querida. Mesmo que nunca mais precise do seu passado ele estará sempre presente em você, mesmo que perdido numa sala como esta – explicou a velha.
- Por que eu estou com tanto medo? – perguntou a moça.
- Conhecer-se é arriscado. Ah! Se você tivesse vindo mais vezes – falou a velha decepcionada.
- Ai! Estou sentindo uma dor muito forte no peito – falou a moça.
- Então, sinto que devo ir embora – disse a velha.
- Não se vá! Ainda há tanto sobre meu futuro que eu preciso saber! – disse a moça.
- Querida, a pouco eu não existirei mais – disse a senhora.

A velha levantou e sorriu. Pouco a pouco seu reflexo foi desaparecendo. A moça então se levantou para abraçá-la e o máximo que ainda lhe restou foi beijar aquele rosto enrugado e antes que a moça retirasse os lábios ela partiu. Com lágrimas nos olhos ela se ajoelhou perante a menina e abraçou-a firme.

- Me desculpe por todas as vezes que eu fui negligente com você, por todas as vezes que eu deixei de curtir cada momento, de brincar como uma criança. Desculpe por não ter te trazido mais vezes para minha vida. Me desculpe pelo que fiz com você, pelo que fiz comigo. Eu destruí seu futuro enquanto construía o meu.
- Eu esperei tanto por esse momento – disse a garotinha entre lágrimas. As duas se entregaram a outro abraço. Aos poucos, a luz da sala foi ficando mais fraca, até desaparecer totalmente.

Um som muito alto e agudo mostrava que não havia mais jeito. Um senhor de roupa branca saía da sala empurrando um carrinho, suas feições estavam tristes. A paciente do quarto 163, vítima de infarto, acabara de falecer. O corpo ainda estava na sala de cirurgia e muitos médicos se espantaram ao ver que a mulher sorria e que, pelos seus olhos, escorriam lágrimas. Infelizmente, nunca pôde alcançar seu futuro, mas morreu em paz com seu passado.

Maria dos Sonhos

Maria dorme, acorda e sonha...
Sua cabeça está tão presa nas nuvens que suas raízes estão soltas da terra.
Pobre louca! Está sempre a voar pelo céu como um balão.
Dizem que ela deveria sonhar apenas quando dormisse
E ao acordar vivesse uma vida normal.
Mas, Maria não considera normal viver sem sonhar
É quando sonha que ela vive, afinal, à noite, dormindo, somos todos iguais
É como se estivéssemos mortos, no entanto, sonhamos com coisas absurdas
Maria não acha que isso seja sonho, ela diz que isso é projeção do subconsciente.
Os sonhos de Maria são bem mais profundos e vem da profundeza do seu ser
Maria não sonha com poderes, casamento ou coisas que se sonha de noite
Ela sonha com um mundo onde ela possa sonhar livremente, onde as pessoas sejam melhores e que não seja feio ser feliz e não aguentar conter isso.
Ela sonha com um planeta com menos desigualdade, com menos poluição, com menos violência.
Maria chama seus desejos de sonhos por saber que eles estão longe de acontecer, pois, no mundo em que Maria vive, as pessoas deixam pra sonhar apenas enquanto dormem...

Esboço da Escrita

Escrever...
Arte difícil de labutar o juízo!
Palavras tem força, palavras tem vez
Achar a vez certa de cada palavra
É a missão fundamental de um autor.


Entender...
A suprema forma de sentir!
Palavras tem sons, palavras tem cor
Achar a forma correta de cada palavra
É a forma mais completa de um autor.


Explicar...
A intensa fórmula do diluir
Palavras são obscuras, palavras são ludibriosas
Achar a face clara de seu texto
É o esconderijo de um autor.

Apresentação

Naquele momento os arautos silenciaram e uma nuvem negra cobriu a cidade, os pássaros silenciaram, os bichos voltaram a suas casas e o zênite daquele dia parecia o cume da noite. Ele vinha cambaleando a duras penas, suas roupas estavam rasgadas seu corpo flagelado, mas ele vinha com um estranho sorriso no rosto.

- Perdoem-me esse jeito estranho de entrar nos seus “mundinhos” particulares, mas, isso é algo que somente um Ignoto pode fazer. Não pretendo que entendas algumas palavras Funestas que possa vir a dizer, infelizmente fui criado com essa alma de poeta para que alguém possa se esconder. Sou um personagem com vida e pensamentos próprios. Não consegui transpor a barreira para o mundo real e por isso divido espaço na mente de alguém.

Após dizer tais palavras seu corpo transformou-se em fumaça que logo se dissipou pelo ar. Todos se entreolharam tentando confirmar se aquilo era um surto coletivo ou se realmente aconteceu.

Sejam bem-vindos ao Funesto Ignoto.

Funesto Ignoto. Tecnologia do Blogger.