sábado, 1 de janeiro de 2011

Réquiem à um amigo

    Já passa da meia-noite, os lenços brancos secam os olhos cansados de chorar, o silêncio da sala é quebrado apenas por soluços sofridos. O cenário é desolador. As luzes estão acesas, mas é como se apenas a chama das velas estivessem acesa. Do lado, três cadeiras se juntam a parede, nelas, duas mulheres de gerações distintas choram silenciosamente enquanto velam o corpo de seu amado. O cheiro de rosas invade os quatro cantos da sala. Qual a finalidade de rosas em um velório? Ao que estamos condecorando ou festejando? Estamos venerando a morte, ou esperando aprovação em olhos alheios?
    Morrer é tão simples e patético e, ao mesmo tempo, tão sublime e ignoto. Eu, que sempre acreditei na recarga da criatura perante o criador me vi balançado ao vê-la em sua vestes funestas. Ao menos, tive tempo de compreendê-la, de decifrá-la e, talvez, agora eu me sinta mais forte. Menos funesto e, talvez, mais ignoto. O tempo passou. A lua, antes minguante, agora cheia, nos revela que o mundo girou, que saímos dos campos floridos de primavera e entramos no verão. Isso me faz lembrar que o mundo não vai parar enquanto meus olhos fitam o preto e minhas vestes se trocam por tons de cinza e preto. Por mais que eu sinta, eu não posso trazer as pessoas ao meu redor de volta. Talvez, nem devesse fazer isso! Tudo um dia deve partir para que o ciclo recomece, nada é infinito.
     “Enfim, descobrimos, agora, que tudo começa e acaba com um sim. Também é preciso coragem para morrer, silêncio para ouvir o grito da vida.” Clarice Lispector In “A Hora da Estrela"


1 comentários:

Anônimo disse...

aplausos de pé!!!

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